A diferença está na consciência


Certa vez estava eu a esperar o ônibus na estação. Finalzinho de tarde mirando as 18h. Estação agitada, pessoas andando de um lado a outro, descendo e subindo dos ônibus que chegavam sempre lotados e em alguns minutos se esvaziava e lotava novamente. Um dia típico para uma quarta-feira qualquer. Estava a observar a correria alheia sabendo que daqui a alguns minutos me juntaria a eles. Nesse instante um menino de um metro e meio, mais ou menos, encostou perto de mim e perguntou se eu queria comprar algumas balinhas das que ele estava vendendo. Não era a primeira vez que isso me acontecia, mas uma coisa naquele menino me chamava a atenção. Era um menino de pele negra, limpo e bem vestido, não tinha cara de maltrapilho ou com cara de alguma criança que estava ali na rua para ganhar dinheiro e se sustentar. Tinha cara de menino de classe média. Naquele momento fiquei pensando em por que os pais dessa criança e de outros milhares que ficam trabalhando na rua deixam seus filhos na rua à mercê de tanta violência que acontece em qualquer lugar. Daí num instante eu mesma tinha uma resposta para várias hipóteses, afinal nunca se sabe qual seu verdadeiro motivo. 

Criança gosta de brincar e se a família não consegue suprir seus desejos de consumo, provavelmente aquela irá ter vontade de buscar de alguma forma aquilo que almeja. Esse pode ser um dos motivos pelo qual aquele menino estaria vendendo balas. Mas diferentemente desse, destaco a necessidade e a fome. Muitas crianças trabalham nesse tipo de serviço desumano pela necessidade de ajudar os pais a se alimentarem, criança esta que aprende desde cedo a ter obrigações de um adulto.

É indispensável comentar também a irresponsabilidades dos pais que obrigam a criança a fazer algo que não quer. Muitas sofrem com isso por serem coagidas pelos familiares a trabalhar arduamente para entregar todo dinheiro dos seus esforços aos pais desnaturados que acham que explorar um infantil não é algo errado, quando é o caso.

Ao pensar em todas essas hipóteses tive uma resposta a aquele menino. Eu poderia comprar umas balas com o intuito de ajuda-lo e deixar seu sorriso transbordar no rosto por ter vendido mais um do seu produto. Eles não dão tempo de você conversar com eles, se aceita ou não seu ato mais ligeiro é sair dali para achar mais compradores. Porém não é certo que uma criança trabalhe nem para ele e nem para ninguém, pois sua infância está sendo perdida a cada dia que passa vendendo doces.

Eu, enfim, não quis comprar nenhuma bala daquele menino e não porque ele estava bem vestido ou limpo, mas para tentar coibir que ele não faça esse trabalho. Perguntei porque ele vendia bala e ele com os olhos baixos fazendo círculos com o pé esquerdo respondeu que era para comprar roupa. Perguntei se seus pais sabiam disso e ele simplesmente saiu sem responder e foi oferecer a outra pessoa. Não tive dúvida que havia feito a coisa certa, provavelmente se trataria de uma criança coagida por um adulto, ou talvez ele realmente só queria comprar sua roupinha mesmo independente dos pais o terem obrigado ou não. Mas uma de coisa eu sei, trabalho infantil é errado!

Culpa dos órgãos públicos que, muitas vezes se esvaem desse tipo de responsabilidade e deixam como estão ou apenas finge que estão cumprindo a lei, em não permitir crianças nas ruas. sabemos que é difícil combater o trabalho infantil, mas é uma necessidade a inserção de políticas públicas.
Quando este e outros meninos ficam nas sinaleiras das ruas, dentro de ônibus, no shopping ou em qualquer outro lugar vendendo doces, nem sempre sabemos o motivo, mas quando você ajuda comprando algo dele, está o incentivando a vender mais, não compre!

Comentários